terça-feira, 27 de novembro de 2012

DISPENSO TRATAMENTO PRIVILEGIADO ASSIM

Em nossos dias, usa-se muito a expressão "melhor idade" - eu a considero ridícula, "data-vênia" aos que pensam em contrário (desculpem - estou assistindo demais aos julgamentos do mensalão!). Alguns amigos queridos e amáveis dizem que não aparento estar nessa fase do século passado, mas sei que estou e, portanto, posso falar(escrever) de carteirinha). Nos consultórios médicos a gente é massacrada - " a senhora veste esta camisolinha, calça este chinelinho, senta nesta cadeirinha, toma este copinho de aguinha e espera um momentinho que o medico já vai lhe atender!" - eu me sinto  um bebezinho  imbecilóidezinho, sem perspetivas de crescimento!!!!- é trágico! Reclamei com um dos médicos sobre isto(a enfermeira estava ao lado) e ele disse que era uma questão de tratamento carinhoso!
 Dispenso! Quero ser tratada como uma pessoa normal que tem pouco mais de 15 anos do que ele próprio.
Quando ando pelas calçadas da minha cidade, os próprios "sessenta" fazem o papel de idiotas: andam devagar, puxando por uma coleirinha fina, um cachorrinho sem graça, que suja todos os jardins bem cuidados das praças, condomínios, hotéis e até shoppings - eles levantam os olhos, procurando algum outro(a) "sessenta" bobão que manifeste aquele sorriso cúmplice de admiração por aquele gesto tão moderno de levar seu cãozinho para passear. Já precisei mudar meus hábitos de caminhada - saí da Beira-Mar e ando pelas ruas mais tranquilas - desviar de cordinhas com cachorros e cocôs de cachorros nas calçadas não dá! 
 Nós também temos problemas com nossos gostos pessoais : outro dia ouvi alguém muito sábio, meu contemporâneo, dizer que na "nossa geração" ninguém podia tocar guitarra ou instrumento mais barulhento na Igreja à qual pertenço. Lamento discordar - eu participei de uma banda - eu era a vocalista e pianista; nossa música era animadíssima, sim! Talvez a diferença fosse mais sutil. Todos nós estudávamos música! Sabíamos que nossa participação era fazer a música e ficávamos só nisso tranquilamente - nada além! 
 Outro discurso muito repetido é o tal respeito aos direitos da pessoa idosa; mas vejo algumas contradições: 
- veja quando acontece um acidente, um assalto, uma violência contra alguém: se for uma pessoa com menos de 60 anos, o repórter policial fala da vítima como sendo um estudante, um advogado, um comerciante, uma professora,etc. Se a vítima tiver mais de 60 anos, (pode ser até um médico aposentado,um cientista), será sempre referida como um idoso, uma idosa! O que quer dizer isto? Deixamos de ser o que somos, apenas porque atravessamos a idade-limite de 60 anos?Eles nos nivelam por faixa etária agora - somos idosos - "aquela idosa foi atacada brutalmente" - "a casa daquele casal de idosos foi arrombada" - até ontem, quando estávamos com 59 e pouco, éramos profissionais de alguma coisa (professor,dona de casa,jornalista,etc.)- agora somos "idosos" - mesmos que seja 60 anos e 1 dia? - tem dó!
-  a segunda ocasião, com consequências piores, aparece no meio do nosso convívio familiar e dos amigos: dá vontade de ser japonesa - pelo que dizem, no Japão a opinião dos "idosos" tem muito valor. Aqui ocorre exatamente o inverso, na proporção geométrica inversa  à sua idade - de repente, você percebe que os "amados" não dão a mínima para o que você diz - sua experiência de vida não serve para nada. Você vê o buraco onde eles estão enfiando o pé e o corpo todo, avisa, mas eles viram o rosto para o outro lado e seguem em frente - em geral, quebram a cara alguns segundos depois."Data vênia" honrosas exceções!
- estou terminando - esta é a última: ocorre quando todos à sua volta escolhem o que é "o melhor" para alguém com a "sua  idade"! Aí fica difícil - perdemos o direito à capacidade de erguer um objeto, de buscar alguma coisa que ficou no carro, de sair correndo na chuva fina para tirar uma toalha que ficou no varal,etc.etc. Você, que está comigo nesta, sabe do que estou falando. Se não está ainda, fique tranquilo - ou vai passar por tudo isso, ou...

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