terça-feira, 27 de novembro de 2012

A MENINA PREOCUPADA

Logo de manhã, quando estava passando pela calçada de uma escola, no horário da saída da aula, ouví a voz de uma menina de uns 8 anos, de mãozinha dada com uma senhora (mãe, tia, acompanhante), dizendo com preocupação: - "hoje você está tranquila?"  Reduzi meu passo para observar a resposta, que veio seca e curta: -" um pouco!"
 Segui meu caminho em direção oposta à delas e minha reflexão foi inevitável: o que aconteceu (ou está acontecendo) para que essa menina precise ter esse tipo de preocupação? É uma criança - está nos anos do faz-de-conta, brincar com bonecas, nadar numa praia, brincar de correr, estudar para a prova, fazer desenhos lindos nos cadernos escolares,etc. 
A menina acabara de sair da aula, fora ao encontro daquela senhora e já estava num clima ruim. Talvez a menina tivesse preferido que a aula durasse mais - durasse para sempre!
 A pergunta sugere que a senhora rotineiramente possa não estar tranquila! Sugere que seu humor seja desagradável, sua companhia seja indesejada - mesmo que não se possa admitir - ainda mais para uma menina de 9 anos! 
Tentei ser generosa e dar uma chance à senhora e descobrir possibilidades para seu mau humor. Será que consigo? Vamos lá:
- se for doença - pode ser tratada? é causada por maus hábitos de vida ou opções erradas feitas anteriormente?
 qual a participação da menina nesta questão?
- se for causada por um mau relacionamento - é uma questão de escolha (se não for da própria, será de outra pessoa) - certamente não da menina; muito provavelmente há conserto, há algo que pode ser melhorado - se não pode ser consertado, é preciso coragem para mudar a direção e recomeçar;
- se a menina foi abandonada naquela situação por um adulto irresponsável, aí, então, chegamos à uma situação  de difícil solução; as leis de proteção à infância e adolescência proliferam em nosso País - não é por falta de leis que nossas crianças sofrem abandono e abuso. Creio mesmo que o abandono é causado pela frouxidão dos costumes e lassidão das leis - é muito fácil ter filhos; ninguém é punido por abandonar um filho (ou mais de um); pelo contrário, nosso Governo "premia" com o salário família quem tem muitos filhos e não tem dinheiro para sustentá-los. Ufa! Nem sei como consegui dizer isso! 
Mas quero voltar à menina preocupada com sua acompanhante. 
Pelo que sei dos Conselhos Tutelares, pouco ou nada poderão fazer por ela - o caso dela nem aparece nas estatísticas; ninguém vai notar; não haverá registro da tristeza dela; talvez ela não tenha boas notas na escola, mas isso poderá ser explicado por vários motivos diferentes; pelo jeito da menina, ela já aprendeu a aceitar a situação como está - não deve ser do tipo que se queixa - ela escuta as queixas da acompanhante - ela trocou de papel - agora ela é a adulta na relação!
 E a sua acompanhante nunca vai precisar crescer!

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