sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

NÃO CHORO POR MANDELA

Desde o anúncio de sua morte, muitas pessoas no mundo todo dizem estar chorando por Nelson Mandela - creio que alguns nem sequer sabiam quem ele era. É que nenhum político profissional pode deixar passar a oportunidade de ser "politicamente correto" neste momento de dor mundial: - é o momento de aderir ao clamor da mídia. Mas sei que também há aqueles que choram de verdade - são os idealistas, os que reconhecem o valor de um homem íntegro. 
Contudo, mesmo sentindo a perda de um homem de grande valor, eu não choro pela morte de Mandela. 
Penso que, tendo passado a maior parte de sua vida em condições de pobreza, opressão, injustiças de todo tipo, até que ele viveu muito - chegar aos 95 anos não é para qualquer um. Ele foi um homem que viveu a sua época, de modo pleno, dando significado a cada momento, a cada situação. 
Não creio que tenha sido um santo, um cidadão acima de qualquer suspeita. 
É certo que cometeu erros ao longo de sua conturbada vida. Poucas pessoas devem conhecer os detalhes de sua história - talvez até existam fatos dos quais o próprio Mandela não se orgulharia. 
Mas os acertos foram muito mais evidentes, marcaram mais, fizeram diferença, tornaram "sua" a história de sua Nação. 
Sim! Ele foi uma pessoa comum, com todas as potencialidades e possibilidades de qualquer ser humano. 
Mas mostrou seu valor acima da mediocridade, por sua capacidade de "enxergar" com os olhos da alma, de ver além do horizonte, de projetar o futuro que acreditava ser possível para seu povo.
Isto feito, estabelecida a meta, ele seguiu com tenacidade, com honra, com disposição para não se corromper, nem corromper seu ideal, mesmo sob prisões e torturas.
É por isto que podemos chamá-lo de "estadista". 
Tinha discurso bonito, sim. Tinha carisma, tinha capacidade de dialogar e passar por cima de detalhes que não significavam muito, para dar relevo ao que era prioridade. 
Gosto de pensar que Mandela usava uma peneira grossa, daquelas que deixam passar as poeirinhas, os insetinhos, as conversinhas bobas, as pequenas ofensas que podiam ser perdoadas. 
Sua "peneira" só separava o que era relevante para alcançar seu objetivo de vida. 
Certamente ele enfrentou gente poderosa e contrária ao seu propósito de pacificação e progresso para seu País. Recebeu homenagens e flores, mas também sofreu com as oposições e o ódio dos medíocres. 
Mas foi um Homem que se deixou usar por Deus; senão, como explicar sua vontade invencível, seu vigor, sua saúde de ferro, sua mente focada, seu desprendimento?  Ele mudou a história - venceu a injustiça com a verdade, venceu os poderosos com a força de seu próprio povo.
Mas eu choro, sim. Choro por meu País: - é que no Brasil não há nenhum "estadista". 
Temos vários "políticos profissionais" que fazem belos discursos, promessas vãs e buscam o Poder a qualquer preço. Mas nenhum deles pode ser comparado ao "estadista Mandela". 
As condições de luta são muito desiguais:- Mandela não conhecia o significado da palavra "conforto" - não tinha uma vida boa. Foi herói e lutou bravamente, sem nenhuma "estrutura governamental" para dar-lhe suporte: - ao contrário dos políticos daqui, ele não tinha direito a secretárias, passagens de avião, diárias, hospedagem em hotéis de luxo, reuniões em gabinetes com tapete vermelho.
Talvez por isso mesmo, desvencilhado do aparato do Poder, ele conseguiu manter o foco - resistir às propostas indecentes que os poderosos sempre fazem...
Por isso choro - lamento que não tenhamos um cidadão brasileiro chamado Mandela (ou pelo menos que tenha a metade de suas qualidades), para fazer nosso País se voltar aos anseios e ideais dos brasileiros. Teremos eleições importantes no próximo ano - mas nenhum candidato se parece com o Mandela ... 
Por isso choro.

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